sábado, 3 de março de 2012

O silêncio de uma linha reta - Felipe Sandrin.

 "A vida é só uma". Esta provavelmente é a frase que você mais ouvirá. Mas, com qual profundidade encaramos tais palavras? Quando e por quanto tempo agimos como breves em existência?
Não há curvas para o tempo, nem retratos que freiem esta simples linha reta por nós traçada. Podemos correr, viajar, sonhar, amar, fazer ou deixar para trás, e ainda assim passar. Passamos como passam horas, dias, meses e anos.
[...]

"E tudo passa tão depressa, aproveite para não se arrepender."
Estranho pensar em quantos ficaram para trás, imaginar se estão casados, com filhos, se ainda tocam seu instrumento no sonho de ser uma estrela do rock. Acho que não, sonhos como o de viajar em um foguete, fazer o gol do título e subir ao palco sendo visto por milhares de pessoas morrem rápido.

Ah, tão ocupados em possuir que nem percebemos sem possuídos. Tão apressados em viver e tão despreparados para isso. Como é difícil encontrar algo que achamos bonito. Nos Estados Unidos, um dos maiores violinistas vivos foi posto em uma estação de trem tocando Stradivarius que custa milhões de dólares e ninguém parou para ouvi-lo.

O tempo passa e leva a criança, leva nossa ousada felicidade. Você para de usar o controle de TV como microfone. Deixa de chutar a bola contra a parede e receber como se fosse um passe. Para de colocar madeiras em árvores para aceitar morar em uma casa "de verdade".

O que fica? Digo, quando partimos, quando parte quem amamos, o que fica? Lembranças?! E o que faço com elas, como as passo adiante?
Tanto por se fazer, pessoas por conhecer, reencontrar. Quanto ficou para trás já nem consigo lembrar. Como uma canção que cantei há dez anos, como amigos que não mais encontrei nessa curta linha reta que, ao invés de simples, faz tanto se perder. [...]"

Texto escrito por Felipe Sandrin, publicado no jornal Serra Nossa, edição do dia 02/03/2012.

Beijo, C.

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