quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Queria, mas... - Por Felipe Sandrin


Há medos estúpidos os quais não sei de onde vêm. Talvez, parando para pensar, eu até chegue às origens minimalistas do que se tornou tempestuoso. O simples fato de as pessoas estranharem quando saio caminhar à 1h, é o que mais me assusta. Penso: eu enlouqueci ou foram as pessoas que aceitaram o comum como sinônimo de sanidade?
A liberdade prende. Não posso, não devo, não sei... Talvez, amanhã, depois, mês que vem, ano que vem. Essa coisa do amanhã cansa. O amanhã é a desculpa dos covardes, e não que seja de todo ruim ser covarde, mas covardes que se fingem corajosos são um saco.
‘Queria’, há palavra mais feia? Sem métrica, cheia de conjectura. Você escuta todo dia alguém dizendo: ‘eu queria’, o perfeito som de uma boca viva em palavras mortas, geralmente sucedida pela ‘mas’.
Voltando à ideia de ir caminhar por cidades de madrugada: claro que há violência, na sombra das esquinas, medo das surpresas, então pergunto: qual o preço da liberdade? Você é livre para escolher, mas encarcerado em pressupostas consequências. 
Quanto nos custou a imbecilidade de não ouvir, por exemplo, Leonel Brizola que, na década de 70 já gritava sobre o futuro de um país sem educação? Ninguém ouviu, ninguém investiu. Agora estamos assim. Em 2012, tudo o que vejo nos jovens em relação ao futuro são frases do tipo: “o que rola no findi?”.
Nesse espaço de tempo entre a espera pelo feriado e os feriados que parecem passar voando, cabem as lamentações pela rotina, como noites de domingo e seu clichê pensamento: “amanhã tudo de novo”.
A aventura salva, e entre todos os perigos os quais ela representa, nenhum é maior do que o cansaço de ver a vida se repetir, sem rostos, sem gosto, sem perspectivas além das que calculamos.
O que recomendo? Viaje. Deixe de comprar o carro novo e reformar a casa. Viaje para lugares que só viu em foto, dos quais só escutou falar. Renove-se, descubra novos espaços no coração, guarde novas sensações. Chega das mesmas praias, no mesmo mês e dia marcado para voltar. Basta de chegadas, faça um ensaio sobre o partir, parta, com a mala cheia de ‘amanhã’ e volte com ela cheia de presentes, vivendo o presente. Não permita que sua vida se resuma a: “eu queria ter feito mais”.

Publicado no Jornal Serra Nossa, 06 de Setembro de 2012.

Beijo, C.
www.facebook.com/doceestranhomundodecarol

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