sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Destinatário: Passado.

 Na edição de Natal/2011 do Jornal Zero Hora, o caderno Donna ZH publicou uma matéria em que profissionais do ramo artístico (estilistas, escritores, compositores) escreviam uma carta ao seu passado. O matéria foi feita da seguinte forma: Primeiro havia a foto da pessoa quando era criança e depois uma foto atual da pessoa com o mesmo figurino e cenário da foto de infância. Após as fotos, havia o nome da pessoa, profissão, a idade na foto de infância e a idade atual. A proposta era a seguinte: cada profissional em seu tempo atual tinha que escrever uma carta para a sua infância, para o seu passado.
Achei uma ideia tão bonita e vou postar aqui a carta escrita por Luciano Alabarse, pois eu amei as palavras que ele escreveu para a sua infância:


"E aí, menino, como andou tua disposição de levar adiante, vida afora, os ímpetos aparecidos no teu coração de criança? Sei bem quais eram, esses sonhos rondando tua cabeça como nuvenzinhas aceleradas, difusos em forma e conteúdo, inconclusos na tentativa de alcançar a grandiosidade misteriosa do mundo. 

Já sabias que, durante toda a vida, homens e artistas marcariam teus dias com epifanias surpreendentes. Foi isso o que te moveu: mostrar-se ao mundo sem medo, procurando revelações e significados transcendentes. Cuidaste de manter, intacta, a fé nesse Deus que te atraiu e amedrontou desde sempre, eu sei.

Não ficaste acuado diante das desilusões, adultas e inevitáveis, que o caminho te descortinou. Um grande poeta chamado Caetano Veloso, escreverá, no final de 2011, um verso onde diz que “viver é um desastre que sucede a alguns” e que “nada temos sobre os não nenhuns”. Pode ser que viver seja apenas um inventário de desilusões, como quer o Caetano. Mas pode ser de outro jeito o jeito de aprender a nos transformarmos no ser humano que desejamos. 

E se é verdade que tudo lateja e dói no transcurso da existência, te digo que vale a pena perseverar. O teatro entrará na tua vida mais tarde e te mostrará a claridade contundente e definitiva das palavras. Procura semeá-la, essa luz, contra todos os que a negarem, não a banalizes nem a subestimes.

Tua palavra será ferramenta e ofício, pois terás uma vida pública – se não te afastares da tua vocação. Aprenderás, com os erros inevitáveis da jornada, a pedir perdão e a perdoar. Deixa que a força motriz da paixão impregne o teu trabalho quando a incredulidade dos outros aparecer diante de ti, irredutível. 

Lembra que aprendeste a confiar, a acreditar e crer. Enfrenta a barra do mundo com determinação e tolerância. Acredita e leva em ti, vivo, o verso escrito na parede da velha igreja da tua rua: “para Deus não existe os impossíveis.” Deus em maiúsculo e “os impossíveis” no plural traduzirão teu jeito e tuas realizações. O adulto que sou hoje deve a ti essa força estranha. O adulto que sou hoje promete zelar pelos teus sonhos. Até o fim."

Talvez você queira saber:
Luciano Alabarse (Porto Alegre, 1953) é um diretor de teatro e de espetáculos musicais brasileiro. Trabalhou durante o período de 1970 até a década de 1990 com texto de escritores brasileiros como Nelson Rodrigues, Marcílio Moraes e Naum Alves de Souza, dando ênfase a escritores gaúchos como Carlos Carvalho, Caio Fernando Abreu, Lya Luft e João Gilberto Noll.
Fonte: Wikipedia.

Beijo, C.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...