quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A distância de um ônibus - Por Felipe Sandrin.

"Olhar algo de uma forma única. Por quantas vezes a lua estava lá e eu não percebi?! Por quantas vezes olhamos para o céu sem realmente notar a esplendorosa orgia noturna das estrelas e nuvens contornadas no branco lunar?!

A distância do que gostamos não se mede em quilômetros, ela tem o espaço de uma noite, um ônibus, um sono que inicia em uma cidade e reinicia em outra.

Neste momento as pessoas dormem. Enquanto isso, eu viajo nos pensamentos de uma estrada iluminada por uma lua que, sinceramente, nunca vi brilhar tanto. É madrugada, passa das 3h, eu mergulho em um texto, no qual as letras certinhas vistas por vocês em outros tempos se tornariam garranchos sobre o papel.

Estranho imaginar como as pessoas interpretam um texto. Que cenário vocês vivenciam quando pegam o jornal e o leem? Existe vida em cada linha descrita.
Mesmo na obrigatoriedade semanal de um jornal, repousa o sentimento. Alguns o fazem na redação do Serra Nossa, outros em casa pouco antes de dormir. Há ainda aqueles que, como eu, aproveitam a madrugada dentro de um ônibus.

Há uma senhora tossindo em um dos bancos lá na frente: sei que é uma senhora pelos cabelos grisalhos.
Também tem uma jovem e bela loira viajando ao meu lado: sei que é jovem e bela, pois... Bem, sei porque não consegui parar de olhar para ela. Ela está dormindo e eu torcendo para que não acorde e consiga ler o que acabo de escrever.

Vidas que se cruzam sem se tocar, que se tocam sem sentir e seguem - provavelmente sem nunca mais se encontrar.

Que longa é essa estrada, mas também como é curta. Curta após curva sem perceber já passou a reta, ligamos o pisca e ultrapassamos alguém, deixamos para trás e somos deixados. Mas algo fica... Alguma coisa sempre fica: quem deixou algo sem querer deixar sabe do que eu estou falando.

Melhor parar por aqui, seguir viajando, fechar os olhos e acordar em um velho novo lugar, esperando o amanhã, um novo sonho para uma velha saudade. Melhor seguir, esperar a próxima curva e quem sabe a surpresa junto dela.
Opa! A loira acordou."


Texto escrito por Felipe Sandrin, publicado no Jornal Serra Nossa, 10/02/12.


Beijo, C.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...