"Ah, não sei, não. O tempo do
relógio não dá mais conta desse mundo. Você acorda e está lá: a cada dia
uma nova invenção tecnológica é criada para enganar o deus Chronos.
Olhamos pro lado e os bluetooths, wirelles, infra-vermelhos e conexões
via satélite invadem nossas vidas e nos conectam com o planeta Terra num
piscar de olhos. Palavras navegam por terra, água e ar e aparecem em
tempo real para diminuir a distância e a solidão. Você liga o computador
e: - Olá! Seu sorriso é visto do outro lado por uma webcam que te
responde via Skype: - Bom dia! E assim seguimos: enviamos e-mails,
falamos bobagens pelo orkut, lemos blogs, usamos o Google para tudo o
que não sabemos, compomos, namoramos e trabalhamos pelo msn, montamos
fotologs, compramos livros e Havaianas on-line, mandamos mensagens com
fotos para o celular de amigas distantes, dizemos “eu te amo” com a
velocidade da luz (não é esse o tempo de apertar “send”?). É, parece
que, de repente, tudo que parecia estar longe, ficou mais perto. E
confesso. Sou contraditória. Sou metade hippie, metade filha da família
Jetsons (lembra daquele desenho onde a faxineira era robô?). Pois é.
Quer me entender? Nem tente. Quero pé na grama e muita tecnologia! Já me
vi perguntando a mesma frase várias vezes e acho que virou mania: moço,
tem entrada pra USB? Resposta positiva? Alivio!! Minha vida está salva
por um décimo de segundo! Vamos respeitar: existem futilidades
tecnológicas deliciosas e quem disser que não, nunca sentiu o prazer
inenarrável de andar pelas ruas de ipod como se fizesse parte de um
clipe imaginário. Ou nunca pôde viajar pro meio do nada com um laptop,
sabendo que poderá conectar-se à internet (mesmo que lenta) e mandar seu
trabalho em tempo hábil, enquanto enterra os próprios pés na areia.
Mas... TRIM! Nova mensagem de voz. Leio e me perco. O que será que me
fez escrever esse texto cheio de bytes e palavras que se auto-corrigem?
Hum... O coração avisa: é o vazio. Mesmo com essa rápida conexão que
liga o mundo, eu nunca senti as pessoas tão desconectadas. Não só de si
mesmas. Mas dos outros. Parece que a carência avança na mesma rapidez
que a tecnologia progride. Muitas vezes preferimos manter
relacionamentos com pessoas que juramos conhecer muito (mas que moram em
outro hemisfério) sem ao menos sorrir pra aquele vizinho interessante
que esbarrou em você. Eu não sou contra relações à distância, muito
menos virtuais, cada um sabe de si e ninguém nunca vai entender o amor
(graças a Deus!). Eu também não sou antropóloga, socióloga, psicóloga,
nem perita em assuntos do saber. Eu apenas sinto. E o que sinto é que o
mundo anda carente. Carente do real. Sem poses, frases copiadas e fotos
corrigidas em photoshops Vem cá: a quem a gente quer enganar? Do quê a
gente quer se esconder? Muito melhor usar a tecnologia a nosso favor e
tomar apenas cuidado para não usa-la como barreira para camuflar nossos
medos e defeitos. Afinal – vamos ser sinceros!- cheiro é cheiro, beijo é
gosto, pele é química e eu não vou saber se te quero porque sua imagem
de 480 pixels me deixou de boca aberta. Ah, não mesmo! Eu quero te
provar. Literalmente. Palavra por palavra. Beijo por beijo. Frase por
frase. Ao vivo e a cores.
(Sorte nossa que a tecnologia ainda não conseguiu plugar o coração)."
Texto maravilhosamente escrito por Fernanda Mello, mais textos dela em http://www.fernandacmello.blogspot.com/
Beijo, C!
Nossa muito lindo esse texto, e concordo com a frase final, realmente é sorte! rs
ResponderExcluirhttp://queridos-pensamentos.blogspot.com/
@Karol_hearts
Verdade!! Ainda bem... Se não tudo se tornaria muito surreal!!
ResponderExcluirobrigada pela visita. beijo