quarta-feira, 31 de julho de 2013

Frases de um livro maravilhoso - História do Cerco de Lisboa.


"(...) Primeiro caso o da imperfeição dos sentidos, da influência dos preconceitos e paixões, do hábito de julgarmos tudo segundo ideias adquiridas, da nossa insaciável curiosidade apesar dos limites impostos ao nosso espírito, da inclinação que nos leva a encontrar mais analogias entre as coisas do que as que realmente têm. No segundo caso, a fonte de erros vem da diferença entre os espíritos, uns que se perdem nos pormenores, outros em vastas generalizações, e também da predileção que temos por certas ciências, o que nos inclina a tudo querer reduzir a elas. (...) O terceiro caso, o dos erros de linguagem, o mal está em que muitas vezes as palavras não têm qualquer sentido, ou têm-no indeterminado, ou podem ser tomadas em aceitações diversas, e por último os tantos erros dos sistemas que não acabaríamos nunca mais se começássemos a enumerá-los aqui".

"Um homem sempre deve ir completo aonde o chamem, não pode alegar "- Trago aqui esta parte de quem sou, o resto atrasou-se no caminho".

"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida, deveria, claro está, mostrar-se severo, não é bom que as coisas acabem por resolver-se sempre à última  hora, precisamos de trabalhar com margens de segurança maiores (...)"

" (...) Ao menos por um tempo, até não se poder resistir à evidência inapagável da mudança, então vai-se ao tempo que passou, que só ele é verdadeiramente tempo, e tenta-se reconstituir o momento que não soubemos reconhecer, que passava enquanto reconstituíamos outros, e assim por diante, momento após momento, todo o romance é isso, desespero, intento frustrado de que o passado não seja coisa definitivamente perdida (...) Se é o romance que impede o homem de esquecer-se, ou se é a impossibilidade do esquecimento que o leva a escrever romances".

"(...) E é neste instante que ao espírito vazio lhe acode uma ideia para ocupar este seu dia livre, algo que afinal nunca fizera na vida, não têm razão aqueles que se queixam da brevidade dela, se não a aproveitaram como lhes foi dada".

"Pois a palavra, qualquer, tem essa facilidade ou virtude de conduzir sempre a quem a disse".

"- Até agora tenho conseguido ser Raimundo Silva
- Ótimo! Então veja se consegue aguentar-se como tal, no interesse desta editora e da harmonia das nossas futuras relações.
- Profissionais.
- Espero que não lhe tenha passado pela cabeça que pudessem ser outras.
- Limitei-me a completar a sua frase, é dever de um revisor sugerir soluções que evitem ambiguidades, tanto as de estilo como as de sentido.
- Imagino que sabe que o lugar ambíguo é a cabeça de quem ouve ou lê.
- Principalmente se o estímulo lhe veio de quem escreveu ou falou.
- Ou se se pertence ao tipo dos que se autoestimulam.
- Não creio que seja esse o meu caso.
- Não crê?
- Raramente faço afirmações peremptórias."

Frases retiradas do livro História do Cerco de Lisboa, escrito por José Saramago.
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Beijo, C.

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