"Então crescemos e aquele nosso amor platônico se transforma
no cara mais babaca que já conhecemos. A época de colégio acaba e finalmente a
hierarquia dos grupinhos populares vai por água abaixo. Malhação vira mais um
programa chato da Globo. Nosso animal de estimação começa a não ter mais tanta
disposição. Então nossas melhores amigas já não são tão melhores assim. Mudamos
de gosto musical. Percebemos que as primas que eram bebês até pouco tempo já
sabem dançar funk. Então amamos um cara. Logo depois aprendemos a lidar
com a distância. Então conhecemos outro cara. Logo depois aprendemos a dizer
adeus. Então as preocupações do futuro se transformam e deixam de ter a ver com
garotos. Temos que decidir o que fazer da vida. Então alguém que
amamos muito é arrancado dela. A solidão deixa de ser só uma palavra. Começamos
a preferir os livros sem imagens. Então vamos pra faculdade. Então
tentamos nos misturar e acabamos esquecendo o que aconteceu na noite passada.
Depois de alguns meses paramos de achar graça nas coisas que antes eram
incríveis. Terminamos a faculdade e vamos em busca de um bom emprego. Então
enfrentamos horas sem dormir e longe de computador. Alguém diz que não
somos boas o suficiente. Ligam pra informar que nosso animal de estimação
faleceu. Então mudamos de emprego, de cidade, de cabelo, de guarda-roupa, de
carro, de melhor amigo, e mais uma vez, mudamos a maneira de ver a vida.
Fechamos os olhos e achamos que as coisas estão mais loucas do que nunca. Aí
lembramos que já passamos por tudo isso que acabei de contar.
Então adormecemos e acordamos sem lembrar de nada. É isso."
Mais textos dela em: www.depoisdosquinze.com
Beijo, C.
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