domingo, 4 de setembro de 2011

Perca-se (Por Felipe Sandrin)



Escova de dente elétrica, máquina de café expresso, escadas rolantes. Basta pôr uns minutos no micro-ondas e está pronto. É só escrever o nome do lugar e o Google lhe ensina por onde ir e como chegar.

Precisamos ganhar tempo, qualquer minuto é fundamental, toda praticidade um novo Deus. Sim, porque o cansaço nos espera, nos chama, tanto implora nossa presença e nós tanto o obedecemos que entre todas as horas marcadas não há uma para nós mesmos.

Falta tempo para conviver, para encontrar os amigos, fazer uma surpresa para quem nos acompanha diariamente. Falta tempo para o “obrigado”. Obrigado por ter estado comigo nos momentos difíceis, por ter me amado quando eu mesmo parecia me odiar. Falta tempo para abraços sinceros e corpos que se entregam. Falta tempo para percebermos quão pouco tempo temos.

Não há nada de errado com a rotina, não podemos viver eternos aventureiros; não há nada de errado com alguém que não consegue sentir-se feliz sempre, pois até o mais saboroso doce enjoa. Refiro-me sobre a busca pela felicidade, sobre o reconhecimento entre a hora do ponto final, a nova linha e a letra maiúscula. Escrevo sobre o poder de horas bem gastas, que fazem a diferença no seu mês, ano, na sua vida.

É assim, você escala o muro de adversidades, leva anos sofrendo e aprendendo, caindo e levantando, mas ao chegar lá em cima percebe que seus braços estão mais fortes, sua mente mais preparada. Você entende que as dificuldades não eram tantas e os problemas tinham o tamanho que você dava a eles.

Escrevo esse texto de mochila pronta, pronto para jogar as coisas no carro e, junto dos meus três melhores amigos, partir para lugares os quais nem nós sabemos. E como isso é difícil em um mundo onde tudo precisa ser tão programado, reunir quatro vidas sem data certa para voltar, sem saber onde vamos estar no dia seguinte.

Antecipo esse texto sem saber o transcorrer da semana, pela incerteza de não conseguir enviá-lo de onde, sei lá, eu esteja. E como é bom, por vezes, a incerteza, trocar o por que, quando e como pelo simples não sei.
Dedico esse texto aos corajosos, àqueles que na ousadia movem o mundo e mesmo temerosos recebem de braços abertos, numa manhã fria, o “não sei”.

Texto escrito por Felipe Sandrin em 2 de setembro de 2011 na edição 323 do Jornal Serra Nossa.

Ótima semana para você, beijo, C.

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