segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O show da vida - Por Felipe Sandrin

 Eu tinha 14 anos e ainda sonhava ser jogador de futebol quando ganhei meu primeiro violão. Era despretensioso em relação àquela madeira com cordas, notas musicais não me chamavam tanto a atenção quanto a bola que corria caprichosamente entre os paralelepípedos do bairro e os tapetes de grama que via pela TV.

Queria que tal sonho tivesse se desfeito junto ao tempo, calmamente, quase imperceptivelmente, mas, pelo contrário, foi rápida e seca a realidade de que um problema no pé iria me atormentar sempre que eu fosse tentar correr atrás dela, a bola. Era como perder uma grande amiga, uma despedida a ecoar o nunca mais: mesmo que ela estivesse ali, não seríamos mais o que éramos.
Bem, tormentas levam, mas também trazem. Alguns meses depois, estava eu sentado sobre a cama, violão sobre a perna e pastas cheias de papéis à minha frente. Eram longas as conversas entre mim e aquela madeira com cordas, não nos entendíamos muito bem, mas ainda assim tornava-se cada vez mais difícil ficarmos longe um do outro.

A vida tem esses mistérios, faz com que coisas até então sem sentido se encaixem de tal forma que mesmo diante de brutais diferenças se tornem fundamentais umas às outras. Foi assim, na dificuldade de um adeus que surgiu meu mais confidente "olá".
Logo meu violão conheceu guitarras, baixos e baterias; trouxe-me novos amigos, amigos esses que subiram comigo em palcos, leram minhas primeiras composições, testemunharam vidas que se uniram por acordes.

Alguém uma vez disse: "Eu não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar todo mundo". Foi assim, sabendo que meu violão e a música estiveram comigo quando mais precisei, que a opinião dos outros quanto aos meus talentos se tornou meramente a opinião dos outros. Eu não tocava para agradar, não cantava para tentar ser percebido, eu apenas fazia porque precisava daquilo tanto quanto respirar.
Vi muitos ficarem pelo caminho, deixando os sonhos que um dia sonhamos juntos para trás. É a vida, não é? Alguns seguem, outros param; atalhos surgem muito convidativos, amenizam uma eventual desistência.

Não sei bem aonde cheguei, mas é prazerosa a sensação de se ver cumprir o que prometemos um dia. E para quem quiser conferir, domingo estaremos tocando em frente à Casa das Artes, ás 17 horas. Coisa rápida, tão rápida quanto a vida, os sonhos, o primeiro e o último show... O show da vida.

Texto escrito por Felipe Sandrin no Jornal Serra Nossa, edição do dia 23/09/11.

Perfeito!
Beijo, C.


3 comentários:

  1. Olá Caroline!

    Parabéns pelo seu blog!

    Adorei o texto, me identifiquei bastante com que o Felipe escreveu.

    Siga-me também:

    brevescronicas.blogspot.com

    Beijos.

    Anselmo

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  2. Muito Bom!! Espero que continues lendo textos desse nível pra cima!! Além dos seus, claro!! Aproveite pra seguir com a vida fazendo o que ama... Que meus comentários nunca que tire do foco!!
    Atenciosamente
    Eu

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  3. Anselmo: Sigo sim!! Muito obrigada pela visita. Beijo! :D

    Eu: Os textos do Felipe Sandrin já possuem um espaço especial no meu coração!! Ele traduz muito do que sinto. Seus comentários não me tiram do foco, pelo contrário, eles ajudam com que eu me esclareça! Beijo, C!

    Voltem sempre!

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