segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Você ainda vive o ontem - Felipe Sandrin.


Aliás, também somos o ontem. O que fazemos, como fazemos, por quem e por que fazemos: somos o eco de um grito passado. Mas não passa, segue ecoando medos e alegrias, em um eterno reencontro com nós mesmos – se somos muitos.
Olhe para trás: o que você vê? Será que suas buscas mudaram tanto? O carrinho de brinquedo se tornou o carro de verdade, a paixão escolar que ensinou o simples de se apaixonar, os avós e amigos que já partiram mostrando que tudo passa, inclusive nós.
A luz do sol demora 8 minutos e 31 segundos para atingir a terra. Ou seja, se nosso sol se apagasse agora, somente depois de 8 minutos e 31 segundos sua luz deixaria de chegar a nós. A estrela mais próxima de nós – depois do sol – se chama Proxima Centauri e sua luz demora quatro anos para chegar até aqui. Quando olhamos para o céu noturno e vemos todas aquelas estrelas, mal imaginamos que talvez nenhuma delas ainda exista.
Ao longe avistamos um conhecido. Lembranças surgem. Para nós, aquela pessoa é a mesma que um dia conhecemos. Na verdade, nem nós somos os mesmos, há vários ‘eus’ em você. Como quando você se deita à noite disposto e pensando no dia seguinte, até que seu despertador toque e você não tenha a mínima vontade de sair da cama. O que mudou durante a noite? Que ‘eu’ você se tornou?
Nesta semana eu completei dois anos fora de Bento Gonçalves. Olhei para trás e percebi que tudo o que passei se repete, está aqui, andando comigo, martelando-me em dúvidas e recarregando minhas forças quando penso no que pode não dar certo.
“No fim tudo dá certo”’, eis uma máxima. Não sabemos bem o que é certo, o único fato do qual realmente temos certeza é de que algo acontecerá. É uma decisão que independe de nós. Pararmos para pensar não para o tempo.
Quando avistamos esse conhecido que fez parte de nosso passado, achamos reconhecê-lo, mas será que não estamos olhando para nós mesmos? Não seria essa somente uma ponte para o reencontro com um de nossos tantos ‘eus’?
Ao enigmático da vida cabem as frustrações. Queremos ser um: presente, passado e futuro. Mas somos vários. Cabem muitos ‘Felipes’ dentro do Felipe, porém, não cabe entendimento quando queremos convergir tantos ‘eus’ no eu.
E assim os dias parecem se repetir: e será que não se repetem? O que os difere? Seria a chuva e o sol? A um darmos o nome de segunda-feira e ao outro de domingo? São perguntas que parecem ilógicas, mas assim parecem devido à nossa limitação. Sim, somos limitados e vários. Se temos dúvidas até mesmo sobre que roupa iremos vestir, imaginem quanto a quem somos.
Ecos de vários gritos. Nossas buscas fúteis do dia a dia são defesas para as limitações do pensamento. E assim, por um momento, nos sentimos magníficos, até que outra parte de nós faça com que nos sintamos medíocres.
Sempre haverá um aluguel por pagar, uma parte da casa por decorar, um conhecido por reencontrar. Sempre doerá uma despedida e haverá esperança de em uma esquina acharmos alguém, alguém que apesar de desconhecido nos apresente ao mais vibrante de nossos ‘eus’.
Texto escrito por Felipe Sandrin, publicado no Jornal Serra Nossa em Novembro/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...