domingo, 3 de novembro de 2013

O barzinho do além-vida.

Há três anos ir ao cemitério, principalmente em dia de Finados, passou a ter um significado diferente para mim. Antes disso, eu ia por conveniência, ia porque mãe e pai diziam que eu tinha que ir, não porque me agradasse tal feito. Hoje, a escolha é minha e faço questão de estar lá, pois, seja a vida irônica ou não, vou lá justamente para visitar o suposto lugar em que meu pai descansa "fisicamente". Cemitério nada mais é do que um memorial físico, já que as verdadeiras memórias transcendem no sentimento.

Ao contrário do que se esperaria de alguém que vai ao cemitério para visitar alguém que muito amava, não sinto tristeza ao ir lá. Sinto uma energia negativa, é verdade, afinal de contas tal lugar se constitui basicamente de lágrimas derramadas e de despedidas.
Ir ao cemitério é como estar em uma roda de amigos, ao menos é o que sinto quando lá estou a visitar o memorial do meu pai. Inicio uma conversa mental com ele, contando tudo o que houve de interessante nos últimos tempos da minha vida e da família que ele deixou por aqui. Algumas lágrimas caem, é inevitável,  mas não por uma dor profunda ou tristeza específica. Isso passou. E no lugar disto, veio a nostalgia, a saudade. Nessa conversa acabo tendo para mim que poderíamos estar em um barzinho, o barzinho do além-vida, no qual, por mais que o tempo passe, continuaríamos em contato, sabendo um do outro e seguindo juntos, embora evidentemente separados. E nele comemoraríamos as coisas boas, os sonhos realizados, os lugares que conhecemos. Daríamos risadas e compartilharíamos o quanto inusitado é viver, e o quanto irônico é morrer.

A vida possui algumas vértices que fogem à nossa escolha. Quem ela escolhe para ir embora, sempre vai embora cedo demais, e nós aqui é que aprendemos a lidar com o nosso dia-a-dia sem mais ter certas pessoas por perto.

Sei que aproveitei a companhia do meu pai enquanto ele estava vivo. Mal sabia eu que existia a possibilidade de ele ir embora tão cedo. É claro que eu queria ter aproveitado muito mais, mas do pouco que me foi possível eu agradeço, pois talvez seja isso que me faça encarar o dia de Finados e as visitas ao cemitério como uma roda de amigos estando em um barzinho, pois assim éramos enquanto ele estava vivo.

Beijo, C.

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