quarta-feira, 3 de julho de 2013

Todo cego tem uma história


(...) Eu quero compartilhar a história de todos eles e o momento aonde a história deles e a minha se encontram.
Talvez eu deva partir do princípio que não foi o acaso que me levou a estar compartilhando a minha vida com a deles - ou a vida deles com a minha. A bem da verdade eu acredito que nada do que vivemos seja por acaso, mas enfim. 

Em 2012 fui aceita para trabalhar em uma associação que prestava acompanhamento pedagógicos, terapêuticos, psicológicos e fonoaudiológicos para pessoas com Síndrome de Down. Crianças, adultos e adolescentes com Down fizeram parte do meu dia-a-dia por mais de um ano. Acho que criei uma certa identificação na questão do assistencialismo e filantropia, muito embora estando na parte administrativa. Afinal de contas, a gente sempre acaba se envolvendo - seja pelo jeito deles que, de fato, é acolhedor, ou seja pela história que cada um tem para contar.

Após ter vivido tal experiência, constatei que nunca mais fui a mesma. Talvez isso seja parte integrante de vivências marcantes, e raras, por assim dizer. Como conselho para uma vida mais humana e sem escrúpulos e de simplicidade, eu diria que conviver com pessoas com tal deficiência é um aprendizado incomum e todos deveriam passar por isso. A vida engrandece, e o sentido desta também.

Então que, por ocasião do destino, agora estou trabalhando com pessoas cegas. E devo dizer que mais uma vez estou maravilhada com a experiência. Como explicar? Identifico-me com a situação, em saber como é levar a vida sem enxergar.
O mais próximo que cheguei em ter a experiência de estar cega foi naquela brincadeira de criança, sabe? A "Cabra cega". E também houve um dia na faculdade em que uma professora de gestão de equipes nos passou uma técnica em que eram formadas duplas e um integrante da dupla tinha que colocar uma venda preta para tapar 100% a visão e assim era guiado por outro. Mas e quando você é cego e não tem alguém para te guiar? Eis a dúvida.

Hoje um dos associados fazia-me companhia enquanto eu realizava algumas tarefas administrativas. A frase foi "Todo cego tem uma história".

"Me chamam de Morgan Freeman. Vou nas lojas e dizem que eu sou parecido com ele! Quando era mais novo eu era locutor em uma rádio de Porto Alegre.
Nos últimos anos, eu virei encanador e um dia desceu ácido da pia direto nos meus olhos. Fiquei cego. Sabe, filha, acho que nada é por acaso. Se tais coisas não tivessem acontecido, não estaria conhecendo a Carol hoje."

Beijo, C.

https://www.facebook.com/doceestranhomundodecarol

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